Foi com esta mensagem, que no dia
4/9/1999, ficamos sabendo que havíamos perdido um grande amigo.
"Caros Amigos,
Infelizmente recebí este mail hoje:
Paulo Absy
adm. lista motociclismo
Lamento a noticia que tenho de
transmitir a todos os amigos do VIPER .
Eu sou Luiza "amiga" dele.
Nosso viper já não esta mais entre nós. Morreu esta tarde dia 3 `as
18.30 hora local se alguem quiser contactar por favor façam-no meu
mail eh
rluiza@macau.ctm.net
obrigado a todos pela amizade que lhe dedicaram ao longo de todo este
tempo
um obrigado especial para Max .
luiza"
Viper era um mentor e grande amigo de
todos pássaros selvagens. Sempre disposto a ajudar e a tirar dúvidas
dos mais inexperientes. E quando não o fazia, nos iluminava com
histórias e conselhos como só uma pessoa de grande sabedoria e
experiência poderiam. Em cima de sua japinha arrepiava nas estradas de
Macau, assutando os motoristas mais incaltos com seu arrojo e
velocidade em cima da ZXR 400 RR. Acredito que era conhecilo por lá
como "aquele borrão verde que passou".
Sentimos todos sua falta... Mas
sentimos mais por aqueles não não puderam conhece-lo, seja real ou
virtualmente.
Mas apesar do que aconteceu tenho
certeza que ele deve estar, como diria o grande mestre, "socando FERRO
NA BONECA" aonde quer que esteja.
Estou incluindo as mensagens que alguns
membros mandaram logo após saberem do seu falecimento. Todos sentiram
necessidade de externar algo, mesmo que fosse um respeitoso silêncio.
Desdos mais chegados, os que não o conheciam e seu filho.
Clodoaldo:
"Para o pessoal da lista: nao tenho
tido possibilidade de acessar por problema no meu computador, que
estou tentando resolver ainda esta semana.
Apesar de atrasado, nao posso de modo algum deixar de externar minha
surpresa, dor e inconformidade com o subito passamento de uma pessoa
da estatura mental do nosso amigo
Viper.Fui avisado pelo Harry e pelo Paulo Absy. Nao sei o motivo que
pôde levar alguém a manchar suas maos com o sangue do Viper, mas de
concreto temos que ele foi assassinado pelas costas, e ate onde sei,
isto é tipico dos covardes.
No I MPS meeting, em sao Paulo, os que de nos tivemos a oportunidade
de conhece-lo logo percebemos que estavamos diante de uma figura
carismatica, amigo, com muita coisa para contar de suas experiencias e
de seus estudos. Na lista nao foi diferente, ele sempre nos ajudou
bastante.
Para mim fica a lembrança de um celular tocando no caminho para
Goiania, "aqui é o Viper,
cara", um amigo do outro lado do mundo desejando-nos a mim e ao Harry
uma boa viagem. O tempo nao se cristaliza, eu sei. Mas imagens sim. E
enquanto houverem estradas, existir a amizade e eu conseguir pilotar
minha moto, se bem que sabendo impossivel sempre estarei esperando que
o celular toque e se ouça a voz do Viper novamente. Bem sei que isto é
irreal: mas quem sabe um dia, ja despreedidos de nossas vestes
terrenas, alguem em forma eterea se nos aproxime e diga com alegria:
"Aqui é o Viper, cara seja bem vindo ao lugar onde se pensa sempre no
bem, e nao se assassina ninguem pelas costas".
O Viper se excluiu do grupo prematuramente...
Apressadinho como sempre. Acho que a japinha corria mais do que ele
modestamente dizia.
Impossivel nao me manifestar, nesta hora triste e emblematica da
transitoriedade dos homens mas da eternidade de suas mentes.
Peço desculpas se me estendi demais.
Clodoaldo "
Ricardo:
"Acabei de chegar em casa e acabo de
ler esta mensagem e não consigo conter minhas lágrimas...
Sem mais palavras no momento...
Ricardo Normand"
Arthur Max:
"Estou aqui nessa lista há alguns
meses. Nunca escrevo nada. Sempre acho que não tenho muito a
acrescentar. Quase todos vocês sabem muito mais que eu de pilotagem,
técnica, mercado. Daí, eu fico aqui observando, e aprendendo.
Fiquei chocado com a notícia da morte do Viper. Estranho como é
possível ficar tocado com a morte de alguém que nunca vi, que sequer
sabia que euexistia. Mas eu fiquei.
Sujeito simpático, prestativo, camarada, bem-humorado. Um dia eu
decobri que tínhamos outra paixão em comum, além de motocicletas: a
fotografia.
Desdeesse dia que eu penso: pô, tenho que escrever pra esse cara, vai
ser legal trocar umas idéias com ele. Acho que seria mesmo. Sempre
pensava isso.
Nunca escrevi.
A gente vai deixando as coisas pra depois, e um dia descobre que não
existe mais depois. É foda.
Ele deve estar tomando muito vento na cara em algum lugar por aí.
Descansa em paz, camarada."
Luiz F. Coimbra (filho do Viper):
"Olá amigos
Aqui quem escreve é o Luiz Fernando, filho do Viper. Um dos filhos..
Somos cinco, o Tibor, com 31 anos, o Bruno com 29, a Kareen com 21, eu
com 17 (completados há cerca de dois meses) e o Ricardo, que completa
17 agora em primeiro de outubro.
Recebi através do Roger e do Paulo as mensagens de alguns a respeito
do acontecido, e estou aqui escrevendo para agradecer a todos voces
pelo apoio e pelas observações e citações a respeito do meu pai.
Acho que estaria sendo um pouco egoísta ou egocêntrico de dizer que na
sexta-feira passada, quando recebi a notícia, me senti a pessoa mais
triste e mais impotente em todo esse mundo. Ao analisar a situação
mais calmamente,junto com os irmãos, percebemos que temos na verdade
motivos para estarmos muito felizes, e não nos sentindo vazios e sem
força para nada. Nos encontramos na madrugada de sexta-feira e com a
graça desta força que chamamos de Deus, graças também a educação que
recebemos, conseguimos resgatar um sentimento muito grande de força.
Nas horas que se seguiram após eu receber a pior notícia que já recebi
em minha vida, só consegui pensar na minha tristeza e no meu
sofrimento; quanto egoísmo.
Juntos (eu e os irmãos) e com a cabeça um pouco mais fria (o quanto
foi possível) conseguimos resgatar todas as idéias e ensinamentos da
pessoa tão incrível que era nosso pai. Ou melhor, que sempre vai ser,
já que por mais incrível que pareça,sentimos ele ali presente entre
nós, como que se houvesse um pedacinho doViper em cada um. Quando
comecei a encarar a situação sob a ótica dele,deixando de pensar um
pouco no meu sofrimento, só encontrei motivos para me sentir bem. Meu
pai sempre foi um cara que prezou muito a liberdade;agora está mais
livre do que nunca. Sempre quis que eu e meus irmãos fossemos muito
unidos e caminhassemos sempre juntos; agora estamos mais próximos do
que nunca. Sempre quis que todos os filhos estudassem e tivessem o
diploma nas mãos para depois decidirem o que queriam fazer da vida. O
que posso dizer ? Estou terminando o terceiro colegial e embora no
momento não consiga me concentrar e deixar de pensar no pai por sequer
alguns minutos, eu consegui resgatar junto com meus irmãos uma grande
vontade de viver e de deixar de ver a vida em preto e branco; quero as
cores novamente, quero sentir alegria novamente, quero ter prazer em
sair e comer uma feijoada no Iron Horse com os amigos; como ocorreu no
começo do ano. Por enquanto está muito difícil, mas estou tentando com
todas as minhas forças seguir em diante, não só porque o pai queria
assim, mas sim porque ele conseguiu,ainda vivo, compartilhar seus
sonhos e seus ideais comigo. É importante para mim, e para todos os
irmãos seguir com a vida, sentir as coisas bonitas da vida, sentir
alegria nas menores coisas; ter uma percepção aguçada da realidade e
saber admirar tudo, absolutamente tudo que nos cerca. Esse é o maior
ensinamento que ficou. Saber que tudo tem um lado bom, e a vontade
enorme e força de saber que o mundo está aí girando e nós temos que
lutar por aquilo que queremos. É assim que eu me lembro do meu pai.
Não como alguém que se mandou para o outro lado do mundo e que sumiu.
Mas sim como uma grande pessoa que sempre esteve presente em todos os
momentos que eu precisei e que não precisei, sempre teve algo de bom
para me falar,sempre abriu meus olhos. Fico triste que a vida não
possa continuar desta forma,que eu não possa mais mostrar ao pai os
trabalhos que faço, as fotos que tiro, fico triste de não poder mais
ouvir seus comentários, suas observações e críticas. Mas por outro
lado me sinto, assim como meus irmãos, MUITO FELIZ MESMO, em ter a
certeza de que no tempo em que pude contar com ele,recebi muito mais
do que muitas pessoas recebem daqueles que os colocam no mundo, e de
que ele foi o melhor pai que poderia ter sido. Talvez querer que
alguém como ele seguisse me segurando pela mão pelo resto da minha
vida seja um desejo realmente muito absurdo; e na verdade é mesmo. Não
sei se meu pai pode me ouvir, pode ler isso aqui ou pode me ver
escrevendo, mas aonde quer que ele esteja gostaria que ele e que todo
mundo soubesse que sou muito grato por tudo e sinto-me feliz por ter
tido alguém como ele ao meu lado por17 anos. O que me consola é que
embora pareça pouco tempo, durante esses 17anos eu não tenho uma
crítica, não guardo mágoa nenhuma; apenas alegrias e muitos
ensinamentos que eu sei que outros não tiveram oportunidade de obter
com seus pais durante toda uma vida. Meu próprio pai é o maior
exemplo; nãose pode dizer que ele admirou a forma como foi educado, em
um colégio interno, depois obrigado a fazer uma faculdade que não
gostava...enfim,coisas que nao devem ser mencionadas. O que faço
questão de dizer é que me lembro muito de meu pai dizer que não queria
de modo algum ser para mim o que meu avô era para ele, e eu gostaria
de dizer que sim; ele conseguiu. Foi muito diferente; foi muito
grande, sábio, amigo, confidente e tantas coisas boas quanto possam
imaginar. Lembro do pai me dizer de três coisas que considerava
essenciais: queria que tivéssemos nele um grande amigo; ter todos os
filhos unidos; ter todos formados e com um caminho em suas vidas.As
duas primeiras coisas ele conseguiu realizar ainda em vida, sinto pena
de nunca ter dito pra ele que ele foi para mim o melhor pai que alguém
poderia ter, mas acho que ele sabe que eu me sentia desta forma. Sobre
nossa união,fico feliz que foi uma coisa que o pai pode presenciar e
sentir; eu e meus irmãos estamos sempre juntos, embora não sejamos
todos filhos das mesmas mães e levemos vidas diferentes. Com relação
ao terceiro desejo... Eu estou lutando da melhor forma que posso, e
quero dizer aqui a todos que vou conseguir encaminhar minha vida da
melhor forma possível, não tenho dúvidas.
Obrigado a todos por tudo, um grande abraço
Luiz F. Coimbra "